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Novembro Azul e o câncer de próstata

No Brasil, um homem morre a cada 38 minutos devido ao câncer de próstata, segundos dados mais recentes do Instituto Nacional do Câncer (INCA), onde há 13.772 casos por ano, e de acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de próstata é o mais frequente entre o público masculino, depois do câncer de pele. Sua ocorrência é maior entre homens mais velhos – cerca de 6 em cada 10 são diagnósticos de câncer de próstata são em pacientes com mais de 65 anos.

A fim de conscientizar a população masculina sobre os riscos, tratamento e a importância do diagnóstico precoce da doença, o “Novembro Azul” é o mês de conscientização do câncer de próstata.

Entrevistamos o Doutor Luiz Eduardo Ximenes, urologista do Clude e o Evandro Oliveira, que faz parte do nosso credenciamento para falarmos sobre o câncer, como ainda há um certo preconceito do público masculino referente ao exame de toque e também como é feito o rastreio da doença.

A campanha “Novembro Azul” e Câncer de Próstata

Bernardo –  Doutor, o que é o Novembro Azul?

Dr. Luiz Eduardo Vamos começar explicando pra quem não sabe, ou pra quem só ouviu falar, na realidade, sobre o Novembro Azul, que é a uma campanha de conscientização sobre o câncer de próstata.

Bernardo –  Explica para gente, em termos mais práticos, o que é câncer de próstata.

Dr. Luiz Eduardo Câncer de próstata é a alteração das células da próstata, e o tipo mais comum é o adenocarcinoma de próstata. O objetivo do Novembro Azul é levar o homem ao consultório, porque temos essa oportunidade de trazer, sendo que a dificuldade antigamente era fazer com que o homem procurasse um médico. […] Durante o mês de novembro temos a chance de atender os pacientes, e com isso, diagnosticando o câncer de próstata mais cedo. O objetivo principal da campanha é a saúde do homem, além de identificarmos o câncer o quanto antes. É muito importante e ajuda muito na sobrevida do paciente. 

Bernardo – Sabemos que, como todo o tipo de câncer, o diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura, e normalmente o paciente não tem sintomas. Por isso a importância dos exames preventivos. E na fase avançada da doença a cura é mais difícil. Nesse momento, é quando o paciente começa a sentir os sintomas. Quais são alguns dos sintomas de câncer de próstata?

Dr. Luiz Eduardo Câncer de próstata, especificamente, não tem aqueles sintomas que alguns outros câncers mostram logo de cara. Por isso que o acompanhamento anual do homem é tão importante, porque apenas um aumento do PSA de um ano para o outro sinaliza e dá algum sinal, e quando isso é negligenciado, o paciente não vai no médico, e então, isso se apresenta com outros sintomas mais graves, como dor óssea, fraturas patológicas, compressão de coluna e alguns sintomas urinários que são sinais de doença avançada, como invasão do próprio tumor onde sai a urina. Então, o paciente deixa de urinar e tem várias outras complicações que significa que já perdeu o timing do tratamento. O câncer de próstata é uma doença silenciosa e esse é o foco da campanha [Novembro Azul], incentivando o homem a procurar o médico, de estar sempre atento a essas pequenas modificações que, de um ano para o outro, uma especialista vendo, consegue se atentar sobre isso e intervir antes. 

Fatores de risco e exames

Evandro – Doutor, uma dúvida: nós sabemos que o câncer é muito mais corriqueiro para os homens acima de 50 anos. Porém, existe um pequeno índice de homens que apresentam os sintomas e o câncer, obviamente, antes dos 40 anos, mas os exames preventivos são indicados para serem feitos a partir dos 40 anos. Como que um homem antes dos 4o consegue identificar a possibilidade dele ter ou desenvolver o câncer de próstata?

Dr. Luiz Eduardo Aos 40 anos seria um caso muito fora da curva, pode ser um tumor muito diferente, e às vezes, nem o PSA aumentaria para chegar o ponto em que pegaria esse paciente com 40 anos e com câncer de próstata. Porém, quem tem histórico familiar é necessário antecipar o rastreio que seria a partir dos 45 anos para os 50, porque se a pessoa tem parente de primeiro grau com câncer de próstata, a chance dele também ter é duas vezes maior do que um homem que não tem histórico na família. Se for, por exemplo, dois parentes de primeiro grau, isso vai para seis vezes mais a chance desse paciente ter câncer de próstata. Então, sempre orientamos ao paciente procurar um urologista: 50 anos para quem não tem caso na família, e para quem tem caso, a partir dos 45. Mas isso é uma opinião minha, que o homem deveria procurar antes, justamente a partir dos 40. Isso vai ajudá-lo a ter o costume de fazer esses exames, mesmo que não faça o toque, mas faça um PSA e vá acompanhando os resultados. Além de entender outros sintomas, como a dificuldade urinar ou disfunção erétil, por exemplo. Isso faz com que o paciente crie um vínculo com o médico e quando chegar aos 45, 50 anos, quando ele terá que fazer aquela vigilância, ele vai estar acostumado, vai estar bem e vai fazer o exame de maneira normal. É muito parecido com o que acontece com a mulher: desde nova ela está acostumada a ir no ginecologista, e no homem não. Então fica esse tabu todo de ter que ir no urologista, de ter que fazer um exame bem invasivo, e que dura menos de 20 segundos e que vira um inferno na vida do paciente.

Evandro – E outra, é bom falar que esse exame de toque também só é realizado se o PSA ter alguma alteração, correto?

Dr. Luiz Eduardo Não. Na verdade, assim: faz parte da pesquisa do câncer de próstata o PSA e o toque. Os dois andam juntos, certo? Não necessariamente! Você não precisa fazer o toque no paciente muito novo, que não tá dentro do grupo de risco. Mas a partir dos 45 anos, aí sim: tem que fazer o PSA e o toque.

Bernardo – E existe algum outro exame? Qual é a gama completa de exames para detectar o câncer de próstata?

Dr. Luiz Eduardo – Para detectar é o PSA e o toque. Daí, com alteração em um dos dois ou nos dois, partimos para outros exames, que seria a biópsia de próstata e a ressonância multiparamédica de próstata. Então é feita a biópsia e se der o resultado de câncer de próstata, dependendo do tipo, que chama de tipo cistológico, a característica do tumor, saímos para fazer todos os tipos de tratamentos possíveis. Chega a um ponto em que, dependendo da idade, o paciente que tem uma expectativa de vida menor do que 15 anos, não fazer nada se o tumor for bem indolente, for bem tranquilo. Hoje em dia, que tem muita informação sobre o câncer de próstata, então temos uma gama e variedade de tratamentos que, assim, é mais fácil morrer com o câncer de próstata do que morrer do câncer de próstata, mas para isso o paciente tem que ir antes para o médico e ter esse contato precoce.

Bernardo – Entendi. Verdade ou mito: quem tem retenção urinária crônica, por algum motivo, seja psicológico, etc., desenvolve mais facilmente o câncer de próstata em idades avançadas?

Dr. Luiz Eduardo – Na verdade, isso seria um mito. A idade é um fator de risco para desenvolver o câncer de próstata: quanto mais você viver, mais risco você vai ter de ter câncer de próstata. E junto com isso, o aumento benigno da próstata. A próstata no tamanho normal seria entre 20 e 30 gramas, e ela, ao longo do tempo, com o estímulo da testosterona, essa próstata vai crescendo. Então, por exemplo, um paciente com uma próstata muito grande, após 60 ou 70 gramas, ele tem os sintomas urinários diferentes do paciente que tem a próstata pequena. Isso pode ser até uma porta de entrada para ele procurar o urologista, sendo que ele chega preocupado porque a próstata está muito grande, e ele atrela isso a questão do tumor, mas na verdade é um aumento benigno da próstata. Sintomas urinários é muito raro, e o paciente ter um sintoma urinário, é possível descobrir o câncer de próstata. Isso envolve muito as consultas periódicas, saber a história clínica, histórico familiar, e fazer os exames durante o ano, uma vez ao ano.

Preconceitos e tabus

Bernardo – Evandro, queria saber o seguinte: na sua opinião, o que impede dos homens se cuidar? Como podemos mudar?

Evandro – Querendo ou não, isso também faz parte do machismo estrutural. O homem é criado e formado na ideia de que ele é autossuficiente, isso já foi dito algumas vezes aqui pelo doutor também. A mulher inicia os cuidados com a ginecologista desde cedo, e o homem tem esse tabu, tanto da saúde mental, quanto da saúde física também. Então vem com tudo isso! Essa coisa mesmo do exame de toque, como se você tocar no ânus do homem fosse mudar a sexualidade dele. Não vai alterar aquilo que você é! Você está se cuidando. Então esse machismo estrutural, que infelizmente fragiliza a masculinidade do homem, eu vejo como um fator bem grave na verdade para o autocuidado do homem.

Bernardo É bem isso né, doutor? A sociedade ainda nos pressiona muito para achar uma coisa ou outra ali,  e como homem, acaba não se cuidando direito.

Dr. Luiz Eduardo Ah, isso aí é muito dessa parte de negligenciar mesmo. Eu sou o dono da casa, tenho que trabalhar, minha saúde vai ficar de lado, mas eu tenho que trazer provento para casa, e aí fica nessa parte: “eu sei o que eu faço” e é ruim. Ainda bem que isso está  mudando. Os homens estão entendendo que é importante visitar o urologista e acho que muito disso parte dessa campanha [Novembro Azul]. O paciente precisa entender que ele tem que ir desde cedo, porque se você falar para um senhor de 65 anos, por exemplo, que nunca foi ao urologista, que ele precisa ir de qualquer forma, e lá ele se depara com um exame de toque, ele com certeza ficará muito inconformado, não vai gostar. Tem toda essa parte e muito cultural, parte da gente que é latino essa questão, mas se formos para um país de fora é muito diferente. Por exemplo, eu participei de um curso na época da residência, em Praga, e eu me assustei! Foi até um preconceito meu, com a quantidade de médicas urologistas, porque é praticamente meio a meio na Europa. Aqui no Brasil você pega e vê que tem mais homem do que mulher. E tem até isso dentro da nossa própria formação. Mulher também, às vezes, não quer fazer urologia porque sabe que o homem vai ficar desconfortável com ela. Então, tem esse tabu mas acho que como o tempo tá mudando, a quantidade de médicas fazendo urologia aumentou e isso é muito bom.

Prevenção

Evandro – Doutor, o senhor disse, anteriormente, das probabilidades daqueles que têm histórico na família. Minha pergunta é: existe alguma forma de prevenção dessas pessoas que têm esse histórico, além do autocuidado para saber se tem a chance de ter ou não. Mas como evitar o câncer de próstata?

Dr. Luiz Eduardo Evitar não tem. A questão é “você nasceu e não vai ter, ao longo da sua vida”, e se você nasceu numa família geneticamente programada a ter o câncer de próstata, a chance de você ter vai ser bem maior. Mas aí cai no que eu já falei aqui: tem que ir o quanto antes ao médico. O quanto antes é melhor. É impressionante o quando você consegue taxas de curas muito altas e o paciente vive bem, descobre melhor a doença. Então prevenir é possível, felizmente, mas hoje você evitar que a pessoa tenha câncer de próstata ainda não tem essa solução, não.

Bernardo – Correto. Doutor, agora uma outra pergunta: nós estamos falando muito de prevenção, fatores de risco, idade, família, etc. E a alimentação? Tem algum dado concreto que relacione bons e maus hábitos alimentares ou é sempre um conselho de caráter um pouco mais genérico. Por exemplo: “coma bem para, de maneira geral, manter a sua máquina-corpo-humano saudável”. Tem algum estudo falando especificamente do câncer de próstata?

Dr. Luiz Eduardo Temos estudo sim falando sobre principalmente das comidas ricas em gordura. Pacientes obesos têm mais propensão a desenvolver câncer, não só de próstata mas como outros tipos também. Tem pesquisas que relacionam isso ao câncer de cólon e ao câncer de próstata, por exemplo. Foi descoberto também a adiponectina. Ela é um componente que está no sangue e em trabalhos científicos, foi visto que quando a adipomectina diminui, ela aumenta o risco de câncer de próstata. Não só de câncer de próstata e também a adipomectina mais baixa, aumenta o risco de infarto, problemas coronarianos em geral, tumores e processos inflamatórios ficam mais intensos. Como vimos agora na pandemia, onde pacientes obesos, apesar de jovens, tinham uma respostas inflamatória muito maior do que outros pacientes que tinham peso normal ou um sobrepeso. Além da dificuldade de respirar, o paciente obeso ainda tinha essa dificuldade de gerar uma inflamação maior. Então hoje sabe-se que o excesso de peso, a obesidade, é uma condição que aumenta o nível de inflamação, e a nível celular vai ter esse incentivo, esse processo inflamatório crônico que pode desenvolver um câncer. Isso já foi dito em vários trabalhos de 2010 para cá, várias publicações falando disso e confirmando essa suspeita.

Bernardo Bem, e fora aquele combo: tabaco, álcool e gordura, famoso combo do bar.

Dr. Luiz Eduardo – Esse aí não tem jeito.

Bernardo Agora eu vou te perguntar, Evandro, o seguinte: se você pudesse dar um conselho para os homens, qual seria?

Evandro – Bom, depois de tudo o que o especialista falou aqui, é bem conselho de pai e mãe e médico: se alimente bem, faça atividade, se previna, se cuide e é melhor agir do que reagir. Então é melhor você buscar, ainda mais você que tem seu tio, que tem seu pai, seu avô, que já teve esse histórico, é melhor você prevenir, saber antes do que você ter que reagir a alguma notícia bombástica. Portanto, manter o corpo funcionando com bons combustíveis, que é a alimentação. Correto, doutor?

Dr. Luiz Eduardo – Perfeito. Resumiu tudo. E também, a gente deixa de ter bons hábitos, por isso é importante melhorar isso, ter uma vida melhor em troca de outras coisas. Então, dá uma focada e é só uma vez por ano, né? Outra coisa que eu falo para os pacientes: descobriu? Parte pra cima e resolve. Não é ficar se lamentando e baixar a cabeça. Se aparecer o câncer a gente vai lá e trata, resolve, e vai estar à disposição sempre que precisar. E conscientizar que não é a partir dos 40 nem dos 50 anos, igual falamos aqui, mas desde criança. Tente levar o filho no urologista, quando tiver alguma dúvida, algum sintoma, pois é importante conversar sobre isso também. Tudo isso que você falou é realmente cuidar do próximo e fazer esse costume engrenar, que eu acredito que já engrenou, né? Que já tem essa conscientização de procurar o urologista.

 

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